Caules com folhas sobre um muro
Andei para aqui às voltas com as ideias, a tentar separar as folhas dos caules, para perceber de que cor é o muro onde se cola essa hera, mas pouco consegui discernir. Às tantas, só faz sentido esse todo de caules com folhas sobre um muro. Assim, como peça inteiriça, escultura que prende na imobilidade matéria, ideia e obreiro.
Quando se congela um gesto, ficará ele lá inteiro? Prender um movimento, é o quê?
Sacralizam-se imagens porque é mais fácil desapegar de poeiras do que sorver apenas a seiva do líquido puro. Como quem liofiliza, empacota, e guarda para um dia de aflição.
Há dias em que liofilizo. Desidrato de sentimentos e vagueio seca por entre páginas de livros que deixei de ler. Fica, assim, tudo imaculado, sem babas de seivas, nem nódoas de ideias.
Higienizada e anónima, para não deixar resíduos de humanidades.
Então, aparece o muro. É um muro comum, igual a um muro, e parece-se com um muro. A volumetria confere-lhe propriedade de objecto. Nem alto, nem baixo; nem espesso, nem fino. Um muro. Ergue-se verticalmente, de baixo para cima, e simultaneamente ampara e separa. Como compete a um muro.
(...)
E a hera teima em trepá-lo.
(...)
Quando se congela um gesto, ficará ele lá inteiro? Prender um movimento, é o quê?
Às tantas, só faz sentido esse todo de caules com folhas sobre um muro.